Oradores & Resumos
Mente espiritualizada, cérebro transformado: as razões evolutivas da experiência do divino
Everaldo Cescon
Partindo da premissa que a prática religiosa e até mesmo as convicções religiosas dos praticantes podem influenciar os quadros da fisiologia encefálica, neurocientistas como Persinger, Beauregard e Paquette defendem que se pode investigar as experiências religiosas numa perspectiva objetiva, por meio de metodologias de neuroimagem e de visualização in vivo da atividade cerebral. Experimentos neurocientíficos permitiram, então, entender o que acontece no cérebro humano quando se participa de rituais religiosos, atribuindo razões evolutivas para a sua existência. Portanto, haveria razões neurobiológicas para a criação de rituais religiosos. A química do cérebro pode ter favorecido o nascimento de práticas religiosas de grupo justamente para manter coesos grupos de indivíduos sempre maiores. Mas quais são tais razões evolutivas? O corpo de referência é constituído por uma série de estudos recentes que procuraram descrever as bases neurais de experiências do divino diferentes entre si.
Os resultados indicam que o pesquisador pode ter acesso aos efeitos (cerebrais, eletrofisiológicos, comportamentais) da experiência, mas nada pode dizer deles se não confrontar essa experiência com o self-report dos sujeitos; apenas pode realizar um mapeamento formal dos efeitos. O monitoramento da experiência do divino realizada em diferentes práticas religiosas indica a recorrência de uma transformação encefálica, ou seja, que a espiritualização gera mudanças biológicas evolutivamente positivas, tais como a manutenção da unidade de grupos humanos sempre maiores.
Palavras-chave: Experiência do divino. Prática religiosa. Mente.
Nota biográfica: Pós-doutor em Filosofia, Universidade de Lisboa, Portugal (2010). Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Itália (2003), Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1999). Atualmente é Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, professor no Programa de Pós-Graduação em Filosofia e no Programa de Pós-Graduação em História, na Universidade de Caxias do Sul, Brasil. É editor da revista Conjectura: filosofia e educação. É líder do Grupo de Pesquisa Religare. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Ética, Fenomenologia e Filosofia da Religião. É membro ordinário do Círculo Latinoamericano de Fenomenologia e da Asociación Internacional de Fenomenología y Ciencia Cognitiva. Sócio-fundador da Sociedade Brasileira de Filosofia da Religião.
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Perspectivas em Neurociência e Psicopatologia
Letícia Sanguinetti Czepielewski
O avanço da neurociência e da ciência psicológica, catalisado pelo desenvolvimento tecnológico especialmente relevante das duas últimas décadas, possibilitou uma aproximação da compreensão acerca dos mecanismos neurofisiológicos de transtornos mentais. Contudo, grandes apostas científicas resultaram em poucos desfechos práticos, como o exemplo da identificação de biomarcadores para realização de diagnósticos de transtornos mentais. Limitações de modelos teóricos e métodos de pesquisa têm imposto barreiras à investigação das explicações causais das psicopatologias, e têm sido discutidas na comunidade científica como decorrentes dos problemas das "crise da teoria" e "crise da replicação". Desta forma, nesta fala buscarei apresentar considerações sobre os avanços científicos de forma geral feitos até então e as barreiras identificadas atualmente, assim como apresentar algumas perspectivas futuras de possíveis caminhos.
- Palavras-chave: Neurociência, psicopatologia, ciência psicológica
- Nota biográfica: Psicóloga Clínica (PUCRS) e Doutora em Psiquiatria e Ciências do Comportamento (UFRGS). Em 2017, recebeu do Ministério da Educação do Governo Federal do Brasil a Menção Honrosa no Prêmio CAPES de Tese pela tese de Doutorado intitulada "Tese: Trajetórias de transtornos mentais graves: Contribuições da pesquisa em Esquizofrenia". Atualmente é Professora Adjunta do Departamento de Psicologia do Desenvolvimento e da Personalidade e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Trabalha com linha de pesquisa que investiga trajetórias de processos cognitivos em transtornos mentais graves e sua relação com marcadores biológicos e de funcionalidade.
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Criação artística autónoma ou arte autómata?
Levi Leonido & Elsa Morgado
A presente comunicação impõe-se perante a crescente relação entre tecnologia e arte e a sua influência no processo e na perceção global do todo criativo no todo artístico. No quadro da inteligência artificial e toda a panóplia de conceitos e ferramentas que lhes são conhecidas e reconhecidas, importa, assim acreditamos, refletir sobre a valoração / valorização versus a descaraterização dos processos e da participação humana direta na obra de arte ou da sua ausência plena. Estará para além do que entendemos por existência humana o mesmo que possamos entender por equivalente à existência do ser criativo? Esse tal humano munido de técnicas, de saberes e de uma sensibilidade especificas será “trasladado” do seu espaço criativo / criador? Substituído ou desmerecido? Significativo ou irrelevante perante as convencionais formas e técnicas que ao longo do tempo se vincaram no quadro da sua atitude, da sua intervenção e da sua irreverência? Tecnologia irreverente ou arte autómata? Ou, simplesmente, desumanização da arte?
Palavras-chave: tecnologia irreverente; arte autómata; desumanização da arte.
Nota biográfica.
- Levi Leonido Fernandes da Silva | Investigador / Membro Integrado do Centro de Investigação em Ciências e Tecnologias da Artes da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa. Membro do Conselho Geral da UTAD. Membro do Painel de Avaliação da Fundação Ciência e Tecnologia (FCT) na área das Artes. Professor Auxiliar com Agregação da Escola de Ciências Humanas e Sociais da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Título de Agregado no Ramo do conhecimento de Ciências da Informação, especialidade Sistemas, Tecnologias e Gestão da Informação pela Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Fernando Pessoa. Doutor Honoris Causa em Artes pela Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes (FEBACLA). Doutorado e Mestre (Grado) em Educação pela Universidade de Salamanca. Doutorado (RN) em Estudos Artísticos pela Faculdade de Letras da Universidade Coimbra. Desenvolveu estudos de Pós-doutoramento em Estudos Musicais (Universidade de Santiago de Compostela) e em Estudos Teatrais (Universidade de Coimbra). Pós-doutorado em Estudos da Performance (Teatro Musical) pela Universidade do Minho. Licenciado em Educação Musical pelo Instituto Piaget. Bacharel em Professores do 1.º Ciclo do Ensino Básico pela UTAD. Revisor e Editor Associado de diversas revistas internacionalmente indexadas. Diretor da Revista Europeia de Estudos Artísticos. Diretor da Revista Internacional de Educação, Saúde e Ambiente. Diretor da Revista Internacional de Ciências, Tecnologia e Sociedade. Diretor Artístico do Festival Internacional de Teatro e Artes Performativas (9 edições). Coordenador do Congresso Internacional de Artes e Comunicação (4 edições). Coordenador do Simpósio Internacional de Investigação em Artes (13 edições). Publicou 81 artigos em revistas especializadas. Autor de 42 capítulos de livro; 43 livros, Sebentas e Anuários; 63 Publicações decorrentes de participação em eventos científicos. Vasta obra artística: Direção; Encenação; Escrita Dramática; Composição Musical; Composição Musical para Cena (91). Orientou (Concluídas): 14 teses de doutoramento; 30 dissertações de Mestrado; 3 Pós-Doutoramentos; 118 trabalhos de iniciação científica. Participou em júris académicos e profissionais diversos: Doutoramento (20); Mestrado (98); Qualificação de Doutoramento (72); Provas de Aptidão Profissional (183). Atua nas áreas de Humanidades com ênfase em Artes e em Ciências da Educação. Nas suas atividades profissionais interagiu com mais de uma centena de colaboradores em coautorias de trabalhos científicos.
- Elsa Maria Gabriel Morgado | Investigadora Auxiliar Convidada do Centro de Estudos Filosóficos e Humanísticos da Universidade Católica – Centro Regional de Braga. Investigadora de pós-Doutoramento na Escola das Ciências Humanas e Sociais da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Docente da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Bragança e do Instituto Politécnico de Viana do Castelo. Direção Executiva das Revistas MUNDIS. Coordenadora da formação da MUNDIS - Associação Cívica de Formação e Cultura. Licenciada em Biologia-Geologia pela UTAD. Especializada em Educação Especial (domínio Cognitivo e Motor) pelo Instituto Superior de Ciências da Informação e Administração - Aveiro. Mestre em Biologia-Geologia pela UTAD. Doutora em Ciências da Educação pela UTAD. Tem desenvolvido uma regular atividade e investigativa no domínio das Ciências da Educação; Educação Ambiental; Educação Especial; Supervisão Pedagógica e Estágio de Inserção Profissional.
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Experiência estética – entre sentido e materialidades comunicativas
Raimundo Rabojac
A experiência estética é tomada aqui num movimento entre o hermenêutico e o não-hermenêutico, entre produção de sentido e produção de presença. Trata-se do esforço em tematizar a estetização do mundo da vida e a experiência da arte no âmbito dos novos fenômenos cuja as novas tecnologias cumprem papel determinante. Considera-se, portanto, a experiência estética a partir dos fazeres, produções e criações artísticas a partir dos quais elementos estéticos impactam as realidades objetiva e subjetiva de nossa experiência com o mundo à nossa volta. Dos caminhos possíveis para uma investigação neste contexto, optaremos por apresentar a experiência estética no âmbito da produção de sentido e da produção de presença. No que diz respeito à produção de sentido, consideraremos em um mundo estetizado, o próprio modo de ser do estético, o qual, ao se configurar, encontra na representação, seu elemento essencial, que, em sua reprodução desvela o que é próprio do ser estético enquanto fenômeno independente e distinto carregado de sentidos. Em relação às materialidades comunicativas, tematizaremos os efeitos de presença, o quais, aqui, não deverão ser compreendidos dispensando as dimensões da interpretação e da produção de sentido. Do contrário, junto a estes, deverão apontar para as materialidades da comunicação, os elementos não hermenêuticos, a produção de presença. Por este caminho, imaginamos colocar nosso debate no contexto do fenômeno estético, o que significa, em perspectiva atualizada, atentar para os modos de presenças no âmbito das artes atuais e seus meios de produção. Entre sentido e presença, a experiência estética, considerando-se principalmente o âmbitos das novas mídias e tecnologias passa a pôr em destaque nossa referência à realidade e nosso conhecer enquanto partes fundamentais da estética, e, de forma ampliada põe em destaque todo nosso conhecimento e experiência da realidade, o que no contemporâneo mundo da vida estetizado, as criações e fazeres artísticos junto aos novos fenômenos tecnológicos despertam para a ideia de que o todo da nossa experiência depende e é composto de estruturas estética, cujo caráter de criação, produtivo e poético integram todas as alterações possíveis relacionadas ao conhecimento da realidade.
Palavras-chave: Estética; Sentido; Presença.
Nota Biográfica: Professor no Departamento de Música e diretor do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Docente Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do IA-UFRGS. Possui graduação em Filosofia e Música. Mestrado em Educação pela Universidade de Passo Fundo (UPF), com pesquisa sobre o conceito gadameriano de diálogo. Doutorado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com pesquisa sobre o conceito de Bildung e formação estética na Filosofia do jovem Nietzsche. Desenvolve trabalhos nas áreas de Prática Musical Coletiva, Estética e Filosofia da Música, Hermenêutica, Música e Formação (Bildung). Principais publicações: Bildung enquanto formação estética no jovem Nietzsche (2015); Compreensão e diálogo: contribuições da hermenêutica gadameriana à educação (2010); Racionalidade musical e experiência natural formativa em Rousseau (2014); Música como fisiologia aplicada: considerações a partir do Nietzsche tardio (2016); Música como problema de formação (Bildung): Espinosa, corpo e afecções (2020); Em perspectiva hermenêutica: arte, existência e tragédia da cultura (2021). Organizou (com L. C. Bombassaro e P. Goergen) Experiência formativa e reflexão (2016); (com L. C. Bombassaro) Música, Filosofia e Formação Cultural (2017); (com N. Hermann) A questão do estético: ensaios (2019); (com L. Tomás) Música, filosofia e crítica: problemas transversais (2020); ); (com A. Fávero e J. Paviani) Vínculos filosóficos (2020).
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O que as Ciências Cognitivas têm a dizer para o Direito hoje?
Lucas M. Dalsotto
O atual avanço das ciências cognitivas para outras áreas do conhecimento, enfim, tem alcançado o direito. Não sem alguma resistência, esse movimento tem feito com que vários teóricos (Leiter 2007; Sunstein 2019) repensem o modo de tratar certas questões clássicas sobre a natureza do direito e o conteúdo de seus conceitos. Buscando explorar novas relações entre esses diferentes domínios, meu objetivo nesse trabalho é explorar de que forma esse tipo de investigação experimental pode contribuir para uma melhor compreensão sobre o fenômeno jurídico. Mais especificamente, espero mostrar que os debates teóricos sobre a natureza descritiva ou avaliativa do conceito de direito precisam atentar para os achados empíricos a que se tem chegado. A fim de fazer isso, considero o recente estudo realizado pelos professores Noel Struchiner e Guilherme de Almeida (2022) no qual argumentam que o conceito de direito possui um caráter dual. A ideia
básica de sua proposta é de que o conceito de direito é representado (i) tanto por um conjunto de características concretas (ii) quanto por alguns valores abstratos subjacentes. A partir dos resultados a que os professores Noel e Guilherme chegam, defendo a tese de que a forma como ordinariamente usamos o conceito de direito impõe dificuldades para algumas teorias (e.g., realismo jurídico) que buscam explicar a natureza do direito. Não acho que esse seja um argumento que ponha um fim à questão, mas ele estabelece limites quanto ao tipo de resposta que as diferentes visões podem oferecer a ela.
Palavras-chave: ciências cognitivas; direito; filosofia experimental; conceitos duais.
Nota biográfica: Professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade de Caxias do Sul (UCS), RS, Brasil.
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Incorporação e representação na mediação digital
Joaquim Braga
Ancorados na metáfora do “desaparecimento”, para muitos teóricos dos novos media, o corpo não sucumbe ante a mediação digital, mas, antes, adquire novas funções; outros autores há, contudo, que concebem o digital e o ciberespaço como tecnologias de um corpo ausente. No diálogo entre estas duas abordagens, falta, na maior parte das vezes, um ponto teórico intermédio para incluir a articulação das acções do corpo com as representações que dele são feitas. Tal insuficiência teórica deve-se, sobretudo, a dois factores relevantes que ainda determinam a ideia de “superfície digital”. O primeiro é epistemológico e diz respeito à forma como, tradicionalmente, concebemos a percepção da materialidade dos objectos do nosso mundo físico – ou seja, o que é material é tangível e objecto das nossas modalidades sensoriais. O segundo factor é ontológico, já que provém da consideração dos objectos reproduzidos e simulados pelas tecnologias digitais em plena comparação com as dimensões empíricas desses objectos. A principal tese desta comunicação é a de que, nos meios tecnodigitais – nomeadamente nas interfaces digitais –, as operações do corpo e as representações do corpo revelam vínculos estéticos estreitos entre si, funcionando, muitas vezes, as segundas como formas de mitigação terapêuticas dos efeitos das primeiras. Logo, isso sugere que, no domínio digital, a natureza e os elementos da representação não podem ser pensados sem as relações incorporadas que acompanham o uso dos artefactos.
Palavras-chave: acção, corpo, interface, materialidade.
Nota biográfica: Joaquim Braga, doutorado em Filosofia pela Philosophische Fakultät I da Humboldt-Universität zu Berlin, é, actualmente, investigador, com funções de docência, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, membro integrado e secretário da Unidade de I&D Instituto de Estudos Filosóficos (IEF). Realiza actividades de produção e disseminação científicas na área da filosofia, mormente nas subáreas da Estética e Filosofia da Cultura, as quais se enquadram quer no âmbito teórico da arte quer na reflexão sobre a tecnologia e os media. É autor de Teoria das Formas Imagéticas. Ensaios sobre Arte, Estética, Tecnologia (Coimbra, Grácio Editor, 2020), Die symbolische Prägnanz des Bildes. Zu einer Kritik des Bildbegriffs nach der Philosophie Ernst Cassirers (Freiburg, Centaurus Verlag, 2012), Símbolo e Cultura (Coimbra, Grácio Editor, 2014); e editor de Philosophy of Care. New Approaches to Vulnerability, Otherness and Therapy, Advancing Global Bioethics 16 (Cham, Springer, 2021), The Quantification of Bodies in Health: Historical and Philosophical Perspectives (Bingley, Emerald, 2021), Quantifying bodies and health. Interdisciplinary approaches (Coimbra, IEF, 2021), Michel Foucault e os Discursos do Corpo (Campinas, Pontes Editores, 2020), Sensibilidade e Matéria no Pensamento de Denis Diderot (Coimbra, IEF, 2020), Conceiving Virtuality: From Art to Technology (New York, Springer, 2019), Antropologia da Individuação. Estudos sobre o Pensamento de Ernst Cassirer (Porto Alegre, Fi, 2017), Bernard de Mandeville’s Tropology of Paradoxes: Morals, Politics, Economics, and Therapy (New York, Springer 2015), Rethinking Culture and Cultural Analysis – Neudenken von Kultur und Kulturanalyse (Berlin, Logos Verlag, 2013), Leituras da Sociedade Moderna. Media, Política, Sentido (Coimbra, Grácio Editor 2013).
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Sensibilidade estética, experiência e a produção do sentido
Ralph Bannell
Perceber o mundo, nas palavras de Hutto e Myin (2017, p. 15), “cannot be accounted for soley in terms of raw stimulation and perturbation of sensory modalities”. Algo extra é necessário para explicar nossa experiência de perceber o mundo. Eis um problema central na filosofia da mente e da cognição. Podemos ter estímulos sensoriais, mas sem experiência no sentido de apreciar a presença de objetos e para o mundo ter significado para nós. A “full-blown experience of wordly offerings” exige algo para além do aparelho sensorial. Mas o que é esse algo extra? Nessa fala, vou pressupor que as respostas oferecidas pelas tradições kantiana e hegeliana não dão conta, porque ignoram o corpo e focam em mecanismos exclusivamente internas ou externas. Versões mais recentes dessas abordagens incluem um reducionismo ao cérebro e suas estruturas e mecanismos internos para explicar experiência; seu oposto, a tese da construção social de todo conteúdo da experiência humana, foca exclusivamente no ambiente sociocultural do indivíduo. Sem duvidar ou negar a contribuição do cérebro e do ambiente para a cognição humana, vou tentar explorar uma possível resposta a essa pergunta que foca na corporificação da mente e na dimensão estética de significado e na experiência.
Palavras-chave: Sentido, estética, corpo, experiência.
Nota biográfica: Ralph Bannell nasceu e cresceu na Inglaterra e se mudou para o Brasil em 1989.
Formou-se em Filosofia, na Universidade de Stirling, Escócia e na Universidade de Berkeley, EUA. Depois fez Mestrado e Doutorado em Pensamento Social e Político, na Universidade de Sussex, Inglaterra e Licenciatura em Linguística Aplicada (UCLES). Trabalhou na Universidade de Sussex, como horista, e na Universidade Federal Fluminense e, atualmente, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). É um dos membros fundadores e ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Filosofia da Educação (SOFIE), ex-Coordenador do GT Filosofia da Educação, da Associação Nacional da Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), do Brasil, e ex-Diretor do Departamento da Educação da PUC-Rio.
Seus interesses principais são: (1) a filosofia política e social e suas implicações para questões educacionais, tais como a formação para a cidadania, a educação igualitária, a justiça educacional e a educação democrática; e a economia política das políticas públicas para a educação; (2) teorias da mente e da cognição e suas implicações para a aprendizagem humana, especialmente a dimensão corporificada e estética da cognição; (3) a formação humana na contemporaneidade; (4) linguagem e desenvolvimento humano, da filosofia da linguagem até aspectos políticos e culturais no ensino de línguas estrangeiras.
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Pensamentos e práticas pedagógicas contemporâneas
Maria Teresa Pessoa
A sociedade moderna, em que a escola está integrada, está sofrendo fortes mudanças e as exigências que são impostas aos professores e aos alunos são cada vez mais complexas. A cultural atual, dominada pelos avanços da tecnologia, tem impactos relevantes em diversos aspetos da vida do cidadão e do aprendente nomeadamente na forma de compreendermos o mundo, na nossa forma de estar e comunicar com outros, na forma de ler, na forma de aceder à informação e de partilhar o que sentimos e pensamos. Porém a escola tem-se mantido resistente à mudança não integrando, de forma fundamentada e critica, o que a Web 2.o, 3.o permitem em termos de construção de coreografias de aprendizagem diversificadas e inovadoras. Muitas das dificuldades que hoje existem e estão subjacentes à compreensão e à intervenção nos processos de ensino-aprendizagem, por outro lado, devem-se de facto à confusão, ou falta de uma atitude reflexiva e situada, relativa ao significado dos conceitos implicados nestes processos e aos princípios pedagógicos que deveriam contextualizar o gesto educativo.
Depois de uma reflexão em torno da sociedade atual e seus principais reflexos no sistema educativo, apresentamos o modelo TPACK e a Taxonomia Digital de Bloom como referências que proporcionam outras leituras, que se querem inovadoras, sobre as dinâmicas pedagógicas elas próprias também, sustentadas em metodologias contemporâneas e ativas. Finalmente, descrevem-se e mostram-se estas ‘novas’ práticas pedagógicas que poderão ser uma condição necessária para o desenvolvimento social e democrático da sociedade no século XXI.
Palavras-Chave: Sociedade Contemporânea| Pedagogias ativas| TPACK | Taxonomia Bloom | Práticas inovadoras
Nota Biográfica: Professora Associada da Faculdade de Psicologia e de Ciências Educação da Universidade de Coimbra.
Tem desenvolvido trabalho como docente e como investigadora nas áreas da formação de professores, das metodologias ativas e da utilização pedagógica das tecnologias da informação e comunicação. Coordenou projetos luso-espanhóis na área de formação de professores, integtrou projetos luso-brasileiro no âmbito da pedagogia universitária. Nos últimos anos tem participado, e sido investigadora responsável, em diversos projetos nacionais e internacionais na área tecnologia em educação, do cyberbullying, na área da formação de professores em geral e ao nível do ensino superior, do e-learning e das metodologias ativas. Tem orientado diversas dissertações de mestrado e doutoramento nestas áreas e tem diversas publicações nacionais e internacionais nestes domínios. Faz parte de diversas comissões científicas de diferentes revistas e congressos nacionais e internacionais
É membro do Instituto de Psicologia Cognitiva e Desenvolvimento Vocacional e Social (IPCDVS), e do Grupo Le@d – Laboratório de Educação a Distância e E-learning da Universidade Aberta. Atualmente é membro integrado do CEIS XX, Universidade de Coimbra
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Ficcionalidade, experiência kinestética e significado: problemas de estética e educação
Thiago Cabrera
Resumo: Ficções têm há muito desempenhado papeis relevantes na vida humana e particularmente na educação. Permanecem em disputa, contudo, nos âmbitos da Filosofia, das Ciências Cognitivas e da Educação, a natureza desses papeis educativos e, num nível anterior, a própria natureza do ficcional. No rastro dessas disputas, esta investigação, pretende, num primeiro momento, elucidar o que seria a experiência de algo como ficcional, tendo por principais referências o cinema, o teatro e jogos de faz de conta infantis. Para tanto, serão abordadas brevemente, com apoio em Husserl, as noções fenomenológicas de experiência perceptiva e de consciência de imagem. Atenção especial será dada à caracterização pela fenomenologia da dimensão kinestética que permeia essas duas formas de consciência. Nesse ponto, teremos o auxílio da leitura que Sheets-Johnstone, defensora de uma versão peculiar da cognição corporificada, faz da concepção de corporeidade em Husserl. Num segundo momento, a partir dos resultados colhidos, será enfrentado o problema do papel educativo da ficção, tendo como principais interrogações: que tipo de construção ou transformação de significado pode se dar a partir da dimensão kinestética de experiências com ficções? teria esse tipo de construção ou transformação de significado um caráter exclusivo determinado pela ficcionalidade ou um caráter apenas derivativo de sua referência a experiência não ficcionais?
Palavras-chave: ficção; percepção; kinestesia; fenomenologia; cognição corporificada.
Nota Biográfica: Professor e pesquisador de Filosofia da Educação; Programa de Pós-graduação em Educação - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Everaldo Cescon
Partindo da premissa que a prática religiosa e até mesmo as convicções religiosas dos praticantes podem influenciar os quadros da fisiologia encefálica, neurocientistas como Persinger, Beauregard e Paquette defendem que se pode investigar as experiências religiosas numa perspectiva objetiva, por meio de metodologias de neuroimagem e de visualização in vivo da atividade cerebral. Experimentos neurocientíficos permitiram, então, entender o que acontece no cérebro humano quando se participa de rituais religiosos, atribuindo razões evolutivas para a sua existência. Portanto, haveria razões neurobiológicas para a criação de rituais religiosos. A química do cérebro pode ter favorecido o nascimento de práticas religiosas de grupo justamente para manter coesos grupos de indivíduos sempre maiores. Mas quais são tais razões evolutivas? O corpo de referência é constituído por uma série de estudos recentes que procuraram descrever as bases neurais de experiências do divino diferentes entre si.
Os resultados indicam que o pesquisador pode ter acesso aos efeitos (cerebrais, eletrofisiológicos, comportamentais) da experiência, mas nada pode dizer deles se não confrontar essa experiência com o self-report dos sujeitos; apenas pode realizar um mapeamento formal dos efeitos. O monitoramento da experiência do divino realizada em diferentes práticas religiosas indica a recorrência de uma transformação encefálica, ou seja, que a espiritualização gera mudanças biológicas evolutivamente positivas, tais como a manutenção da unidade de grupos humanos sempre maiores.
Palavras-chave: Experiência do divino. Prática religiosa. Mente.
Nota biográfica: Pós-doutor em Filosofia, Universidade de Lisboa, Portugal (2010). Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Itália (2003), Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1999). Atualmente é Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, professor no Programa de Pós-Graduação em Filosofia e no Programa de Pós-Graduação em História, na Universidade de Caxias do Sul, Brasil. É editor da revista Conjectura: filosofia e educação. É líder do Grupo de Pesquisa Religare. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Ética, Fenomenologia e Filosofia da Religião. É membro ordinário do Círculo Latinoamericano de Fenomenologia e da Asociación Internacional de Fenomenología y Ciencia Cognitiva. Sócio-fundador da Sociedade Brasileira de Filosofia da Religião.
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Perspectivas em Neurociência e Psicopatologia
Letícia Sanguinetti Czepielewski
O avanço da neurociência e da ciência psicológica, catalisado pelo desenvolvimento tecnológico especialmente relevante das duas últimas décadas, possibilitou uma aproximação da compreensão acerca dos mecanismos neurofisiológicos de transtornos mentais. Contudo, grandes apostas científicas resultaram em poucos desfechos práticos, como o exemplo da identificação de biomarcadores para realização de diagnósticos de transtornos mentais. Limitações de modelos teóricos e métodos de pesquisa têm imposto barreiras à investigação das explicações causais das psicopatologias, e têm sido discutidas na comunidade científica como decorrentes dos problemas das "crise da teoria" e "crise da replicação". Desta forma, nesta fala buscarei apresentar considerações sobre os avanços científicos de forma geral feitos até então e as barreiras identificadas atualmente, assim como apresentar algumas perspectivas futuras de possíveis caminhos.
- Palavras-chave: Neurociência, psicopatologia, ciência psicológica
- Nota biográfica: Psicóloga Clínica (PUCRS) e Doutora em Psiquiatria e Ciências do Comportamento (UFRGS). Em 2017, recebeu do Ministério da Educação do Governo Federal do Brasil a Menção Honrosa no Prêmio CAPES de Tese pela tese de Doutorado intitulada "Tese: Trajetórias de transtornos mentais graves: Contribuições da pesquisa em Esquizofrenia". Atualmente é Professora Adjunta do Departamento de Psicologia do Desenvolvimento e da Personalidade e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Trabalha com linha de pesquisa que investiga trajetórias de processos cognitivos em transtornos mentais graves e sua relação com marcadores biológicos e de funcionalidade.
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Criação artística autónoma ou arte autómata?
Levi Leonido & Elsa Morgado
A presente comunicação impõe-se perante a crescente relação entre tecnologia e arte e a sua influência no processo e na perceção global do todo criativo no todo artístico. No quadro da inteligência artificial e toda a panóplia de conceitos e ferramentas que lhes são conhecidas e reconhecidas, importa, assim acreditamos, refletir sobre a valoração / valorização versus a descaraterização dos processos e da participação humana direta na obra de arte ou da sua ausência plena. Estará para além do que entendemos por existência humana o mesmo que possamos entender por equivalente à existência do ser criativo? Esse tal humano munido de técnicas, de saberes e de uma sensibilidade especificas será “trasladado” do seu espaço criativo / criador? Substituído ou desmerecido? Significativo ou irrelevante perante as convencionais formas e técnicas que ao longo do tempo se vincaram no quadro da sua atitude, da sua intervenção e da sua irreverência? Tecnologia irreverente ou arte autómata? Ou, simplesmente, desumanização da arte?
Palavras-chave: tecnologia irreverente; arte autómata; desumanização da arte.
Nota biográfica.
- Levi Leonido Fernandes da Silva | Investigador / Membro Integrado do Centro de Investigação em Ciências e Tecnologias da Artes da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa. Membro do Conselho Geral da UTAD. Membro do Painel de Avaliação da Fundação Ciência e Tecnologia (FCT) na área das Artes. Professor Auxiliar com Agregação da Escola de Ciências Humanas e Sociais da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Título de Agregado no Ramo do conhecimento de Ciências da Informação, especialidade Sistemas, Tecnologias e Gestão da Informação pela Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Fernando Pessoa. Doutor Honoris Causa em Artes pela Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes (FEBACLA). Doutorado e Mestre (Grado) em Educação pela Universidade de Salamanca. Doutorado (RN) em Estudos Artísticos pela Faculdade de Letras da Universidade Coimbra. Desenvolveu estudos de Pós-doutoramento em Estudos Musicais (Universidade de Santiago de Compostela) e em Estudos Teatrais (Universidade de Coimbra). Pós-doutorado em Estudos da Performance (Teatro Musical) pela Universidade do Minho. Licenciado em Educação Musical pelo Instituto Piaget. Bacharel em Professores do 1.º Ciclo do Ensino Básico pela UTAD. Revisor e Editor Associado de diversas revistas internacionalmente indexadas. Diretor da Revista Europeia de Estudos Artísticos. Diretor da Revista Internacional de Educação, Saúde e Ambiente. Diretor da Revista Internacional de Ciências, Tecnologia e Sociedade. Diretor Artístico do Festival Internacional de Teatro e Artes Performativas (9 edições). Coordenador do Congresso Internacional de Artes e Comunicação (4 edições). Coordenador do Simpósio Internacional de Investigação em Artes (13 edições). Publicou 81 artigos em revistas especializadas. Autor de 42 capítulos de livro; 43 livros, Sebentas e Anuários; 63 Publicações decorrentes de participação em eventos científicos. Vasta obra artística: Direção; Encenação; Escrita Dramática; Composição Musical; Composição Musical para Cena (91). Orientou (Concluídas): 14 teses de doutoramento; 30 dissertações de Mestrado; 3 Pós-Doutoramentos; 118 trabalhos de iniciação científica. Participou em júris académicos e profissionais diversos: Doutoramento (20); Mestrado (98); Qualificação de Doutoramento (72); Provas de Aptidão Profissional (183). Atua nas áreas de Humanidades com ênfase em Artes e em Ciências da Educação. Nas suas atividades profissionais interagiu com mais de uma centena de colaboradores em coautorias de trabalhos científicos.
- Elsa Maria Gabriel Morgado | Investigadora Auxiliar Convidada do Centro de Estudos Filosóficos e Humanísticos da Universidade Católica – Centro Regional de Braga. Investigadora de pós-Doutoramento na Escola das Ciências Humanas e Sociais da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Docente da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Bragança e do Instituto Politécnico de Viana do Castelo. Direção Executiva das Revistas MUNDIS. Coordenadora da formação da MUNDIS - Associação Cívica de Formação e Cultura. Licenciada em Biologia-Geologia pela UTAD. Especializada em Educação Especial (domínio Cognitivo e Motor) pelo Instituto Superior de Ciências da Informação e Administração - Aveiro. Mestre em Biologia-Geologia pela UTAD. Doutora em Ciências da Educação pela UTAD. Tem desenvolvido uma regular atividade e investigativa no domínio das Ciências da Educação; Educação Ambiental; Educação Especial; Supervisão Pedagógica e Estágio de Inserção Profissional.
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Experiência estética – entre sentido e materialidades comunicativas
Raimundo Rabojac
A experiência estética é tomada aqui num movimento entre o hermenêutico e o não-hermenêutico, entre produção de sentido e produção de presença. Trata-se do esforço em tematizar a estetização do mundo da vida e a experiência da arte no âmbito dos novos fenômenos cuja as novas tecnologias cumprem papel determinante. Considera-se, portanto, a experiência estética a partir dos fazeres, produções e criações artísticas a partir dos quais elementos estéticos impactam as realidades objetiva e subjetiva de nossa experiência com o mundo à nossa volta. Dos caminhos possíveis para uma investigação neste contexto, optaremos por apresentar a experiência estética no âmbito da produção de sentido e da produção de presença. No que diz respeito à produção de sentido, consideraremos em um mundo estetizado, o próprio modo de ser do estético, o qual, ao se configurar, encontra na representação, seu elemento essencial, que, em sua reprodução desvela o que é próprio do ser estético enquanto fenômeno independente e distinto carregado de sentidos. Em relação às materialidades comunicativas, tematizaremos os efeitos de presença, o quais, aqui, não deverão ser compreendidos dispensando as dimensões da interpretação e da produção de sentido. Do contrário, junto a estes, deverão apontar para as materialidades da comunicação, os elementos não hermenêuticos, a produção de presença. Por este caminho, imaginamos colocar nosso debate no contexto do fenômeno estético, o que significa, em perspectiva atualizada, atentar para os modos de presenças no âmbito das artes atuais e seus meios de produção. Entre sentido e presença, a experiência estética, considerando-se principalmente o âmbitos das novas mídias e tecnologias passa a pôr em destaque nossa referência à realidade e nosso conhecer enquanto partes fundamentais da estética, e, de forma ampliada põe em destaque todo nosso conhecimento e experiência da realidade, o que no contemporâneo mundo da vida estetizado, as criações e fazeres artísticos junto aos novos fenômenos tecnológicos despertam para a ideia de que o todo da nossa experiência depende e é composto de estruturas estética, cujo caráter de criação, produtivo e poético integram todas as alterações possíveis relacionadas ao conhecimento da realidade.
Palavras-chave: Estética; Sentido; Presença.
Nota Biográfica: Professor no Departamento de Música e diretor do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Docente Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do IA-UFRGS. Possui graduação em Filosofia e Música. Mestrado em Educação pela Universidade de Passo Fundo (UPF), com pesquisa sobre o conceito gadameriano de diálogo. Doutorado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com pesquisa sobre o conceito de Bildung e formação estética na Filosofia do jovem Nietzsche. Desenvolve trabalhos nas áreas de Prática Musical Coletiva, Estética e Filosofia da Música, Hermenêutica, Música e Formação (Bildung). Principais publicações: Bildung enquanto formação estética no jovem Nietzsche (2015); Compreensão e diálogo: contribuições da hermenêutica gadameriana à educação (2010); Racionalidade musical e experiência natural formativa em Rousseau (2014); Música como fisiologia aplicada: considerações a partir do Nietzsche tardio (2016); Música como problema de formação (Bildung): Espinosa, corpo e afecções (2020); Em perspectiva hermenêutica: arte, existência e tragédia da cultura (2021). Organizou (com L. C. Bombassaro e P. Goergen) Experiência formativa e reflexão (2016); (com L. C. Bombassaro) Música, Filosofia e Formação Cultural (2017); (com N. Hermann) A questão do estético: ensaios (2019); (com L. Tomás) Música, filosofia e crítica: problemas transversais (2020); ); (com A. Fávero e J. Paviani) Vínculos filosóficos (2020).
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O que as Ciências Cognitivas têm a dizer para o Direito hoje?
Lucas M. Dalsotto
O atual avanço das ciências cognitivas para outras áreas do conhecimento, enfim, tem alcançado o direito. Não sem alguma resistência, esse movimento tem feito com que vários teóricos (Leiter 2007; Sunstein 2019) repensem o modo de tratar certas questões clássicas sobre a natureza do direito e o conteúdo de seus conceitos. Buscando explorar novas relações entre esses diferentes domínios, meu objetivo nesse trabalho é explorar de que forma esse tipo de investigação experimental pode contribuir para uma melhor compreensão sobre o fenômeno jurídico. Mais especificamente, espero mostrar que os debates teóricos sobre a natureza descritiva ou avaliativa do conceito de direito precisam atentar para os achados empíricos a que se tem chegado. A fim de fazer isso, considero o recente estudo realizado pelos professores Noel Struchiner e Guilherme de Almeida (2022) no qual argumentam que o conceito de direito possui um caráter dual. A ideia
básica de sua proposta é de que o conceito de direito é representado (i) tanto por um conjunto de características concretas (ii) quanto por alguns valores abstratos subjacentes. A partir dos resultados a que os professores Noel e Guilherme chegam, defendo a tese de que a forma como ordinariamente usamos o conceito de direito impõe dificuldades para algumas teorias (e.g., realismo jurídico) que buscam explicar a natureza do direito. Não acho que esse seja um argumento que ponha um fim à questão, mas ele estabelece limites quanto ao tipo de resposta que as diferentes visões podem oferecer a ela.
Palavras-chave: ciências cognitivas; direito; filosofia experimental; conceitos duais.
Nota biográfica: Professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade de Caxias do Sul (UCS), RS, Brasil.
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Incorporação e representação na mediação digital
Joaquim Braga
Ancorados na metáfora do “desaparecimento”, para muitos teóricos dos novos media, o corpo não sucumbe ante a mediação digital, mas, antes, adquire novas funções; outros autores há, contudo, que concebem o digital e o ciberespaço como tecnologias de um corpo ausente. No diálogo entre estas duas abordagens, falta, na maior parte das vezes, um ponto teórico intermédio para incluir a articulação das acções do corpo com as representações que dele são feitas. Tal insuficiência teórica deve-se, sobretudo, a dois factores relevantes que ainda determinam a ideia de “superfície digital”. O primeiro é epistemológico e diz respeito à forma como, tradicionalmente, concebemos a percepção da materialidade dos objectos do nosso mundo físico – ou seja, o que é material é tangível e objecto das nossas modalidades sensoriais. O segundo factor é ontológico, já que provém da consideração dos objectos reproduzidos e simulados pelas tecnologias digitais em plena comparação com as dimensões empíricas desses objectos. A principal tese desta comunicação é a de que, nos meios tecnodigitais – nomeadamente nas interfaces digitais –, as operações do corpo e as representações do corpo revelam vínculos estéticos estreitos entre si, funcionando, muitas vezes, as segundas como formas de mitigação terapêuticas dos efeitos das primeiras. Logo, isso sugere que, no domínio digital, a natureza e os elementos da representação não podem ser pensados sem as relações incorporadas que acompanham o uso dos artefactos.
Palavras-chave: acção, corpo, interface, materialidade.
Nota biográfica: Joaquim Braga, doutorado em Filosofia pela Philosophische Fakultät I da Humboldt-Universität zu Berlin, é, actualmente, investigador, com funções de docência, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, membro integrado e secretário da Unidade de I&D Instituto de Estudos Filosóficos (IEF). Realiza actividades de produção e disseminação científicas na área da filosofia, mormente nas subáreas da Estética e Filosofia da Cultura, as quais se enquadram quer no âmbito teórico da arte quer na reflexão sobre a tecnologia e os media. É autor de Teoria das Formas Imagéticas. Ensaios sobre Arte, Estética, Tecnologia (Coimbra, Grácio Editor, 2020), Die symbolische Prägnanz des Bildes. Zu einer Kritik des Bildbegriffs nach der Philosophie Ernst Cassirers (Freiburg, Centaurus Verlag, 2012), Símbolo e Cultura (Coimbra, Grácio Editor, 2014); e editor de Philosophy of Care. New Approaches to Vulnerability, Otherness and Therapy, Advancing Global Bioethics 16 (Cham, Springer, 2021), The Quantification of Bodies in Health: Historical and Philosophical Perspectives (Bingley, Emerald, 2021), Quantifying bodies and health. Interdisciplinary approaches (Coimbra, IEF, 2021), Michel Foucault e os Discursos do Corpo (Campinas, Pontes Editores, 2020), Sensibilidade e Matéria no Pensamento de Denis Diderot (Coimbra, IEF, 2020), Conceiving Virtuality: From Art to Technology (New York, Springer, 2019), Antropologia da Individuação. Estudos sobre o Pensamento de Ernst Cassirer (Porto Alegre, Fi, 2017), Bernard de Mandeville’s Tropology of Paradoxes: Morals, Politics, Economics, and Therapy (New York, Springer 2015), Rethinking Culture and Cultural Analysis – Neudenken von Kultur und Kulturanalyse (Berlin, Logos Verlag, 2013), Leituras da Sociedade Moderna. Media, Política, Sentido (Coimbra, Grácio Editor 2013).
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Sensibilidade estética, experiência e a produção do sentido
Ralph Bannell
Perceber o mundo, nas palavras de Hutto e Myin (2017, p. 15), “cannot be accounted for soley in terms of raw stimulation and perturbation of sensory modalities”. Algo extra é necessário para explicar nossa experiência de perceber o mundo. Eis um problema central na filosofia da mente e da cognição. Podemos ter estímulos sensoriais, mas sem experiência no sentido de apreciar a presença de objetos e para o mundo ter significado para nós. A “full-blown experience of wordly offerings” exige algo para além do aparelho sensorial. Mas o que é esse algo extra? Nessa fala, vou pressupor que as respostas oferecidas pelas tradições kantiana e hegeliana não dão conta, porque ignoram o corpo e focam em mecanismos exclusivamente internas ou externas. Versões mais recentes dessas abordagens incluem um reducionismo ao cérebro e suas estruturas e mecanismos internos para explicar experiência; seu oposto, a tese da construção social de todo conteúdo da experiência humana, foca exclusivamente no ambiente sociocultural do indivíduo. Sem duvidar ou negar a contribuição do cérebro e do ambiente para a cognição humana, vou tentar explorar uma possível resposta a essa pergunta que foca na corporificação da mente e na dimensão estética de significado e na experiência.
Palavras-chave: Sentido, estética, corpo, experiência.
Nota biográfica: Ralph Bannell nasceu e cresceu na Inglaterra e se mudou para o Brasil em 1989.
Formou-se em Filosofia, na Universidade de Stirling, Escócia e na Universidade de Berkeley, EUA. Depois fez Mestrado e Doutorado em Pensamento Social e Político, na Universidade de Sussex, Inglaterra e Licenciatura em Linguística Aplicada (UCLES). Trabalhou na Universidade de Sussex, como horista, e na Universidade Federal Fluminense e, atualmente, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). É um dos membros fundadores e ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Filosofia da Educação (SOFIE), ex-Coordenador do GT Filosofia da Educação, da Associação Nacional da Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), do Brasil, e ex-Diretor do Departamento da Educação da PUC-Rio.
Seus interesses principais são: (1) a filosofia política e social e suas implicações para questões educacionais, tais como a formação para a cidadania, a educação igualitária, a justiça educacional e a educação democrática; e a economia política das políticas públicas para a educação; (2) teorias da mente e da cognição e suas implicações para a aprendizagem humana, especialmente a dimensão corporificada e estética da cognição; (3) a formação humana na contemporaneidade; (4) linguagem e desenvolvimento humano, da filosofia da linguagem até aspectos políticos e culturais no ensino de línguas estrangeiras.
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Pensamentos e práticas pedagógicas contemporâneas
Maria Teresa Pessoa
A sociedade moderna, em que a escola está integrada, está sofrendo fortes mudanças e as exigências que são impostas aos professores e aos alunos são cada vez mais complexas. A cultural atual, dominada pelos avanços da tecnologia, tem impactos relevantes em diversos aspetos da vida do cidadão e do aprendente nomeadamente na forma de compreendermos o mundo, na nossa forma de estar e comunicar com outros, na forma de ler, na forma de aceder à informação e de partilhar o que sentimos e pensamos. Porém a escola tem-se mantido resistente à mudança não integrando, de forma fundamentada e critica, o que a Web 2.o, 3.o permitem em termos de construção de coreografias de aprendizagem diversificadas e inovadoras. Muitas das dificuldades que hoje existem e estão subjacentes à compreensão e à intervenção nos processos de ensino-aprendizagem, por outro lado, devem-se de facto à confusão, ou falta de uma atitude reflexiva e situada, relativa ao significado dos conceitos implicados nestes processos e aos princípios pedagógicos que deveriam contextualizar o gesto educativo.
Depois de uma reflexão em torno da sociedade atual e seus principais reflexos no sistema educativo, apresentamos o modelo TPACK e a Taxonomia Digital de Bloom como referências que proporcionam outras leituras, que se querem inovadoras, sobre as dinâmicas pedagógicas elas próprias também, sustentadas em metodologias contemporâneas e ativas. Finalmente, descrevem-se e mostram-se estas ‘novas’ práticas pedagógicas que poderão ser uma condição necessária para o desenvolvimento social e democrático da sociedade no século XXI.
Palavras-Chave: Sociedade Contemporânea| Pedagogias ativas| TPACK | Taxonomia Bloom | Práticas inovadoras
Nota Biográfica: Professora Associada da Faculdade de Psicologia e de Ciências Educação da Universidade de Coimbra.
Tem desenvolvido trabalho como docente e como investigadora nas áreas da formação de professores, das metodologias ativas e da utilização pedagógica das tecnologias da informação e comunicação. Coordenou projetos luso-espanhóis na área de formação de professores, integtrou projetos luso-brasileiro no âmbito da pedagogia universitária. Nos últimos anos tem participado, e sido investigadora responsável, em diversos projetos nacionais e internacionais na área tecnologia em educação, do cyberbullying, na área da formação de professores em geral e ao nível do ensino superior, do e-learning e das metodologias ativas. Tem orientado diversas dissertações de mestrado e doutoramento nestas áreas e tem diversas publicações nacionais e internacionais nestes domínios. Faz parte de diversas comissões científicas de diferentes revistas e congressos nacionais e internacionais
É membro do Instituto de Psicologia Cognitiva e Desenvolvimento Vocacional e Social (IPCDVS), e do Grupo Le@d – Laboratório de Educação a Distância e E-learning da Universidade Aberta. Atualmente é membro integrado do CEIS XX, Universidade de Coimbra
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Ficcionalidade, experiência kinestética e significado: problemas de estética e educação
Thiago Cabrera
Resumo: Ficções têm há muito desempenhado papeis relevantes na vida humana e particularmente na educação. Permanecem em disputa, contudo, nos âmbitos da Filosofia, das Ciências Cognitivas e da Educação, a natureza desses papeis educativos e, num nível anterior, a própria natureza do ficcional. No rastro dessas disputas, esta investigação, pretende, num primeiro momento, elucidar o que seria a experiência de algo como ficcional, tendo por principais referências o cinema, o teatro e jogos de faz de conta infantis. Para tanto, serão abordadas brevemente, com apoio em Husserl, as noções fenomenológicas de experiência perceptiva e de consciência de imagem. Atenção especial será dada à caracterização pela fenomenologia da dimensão kinestética que permeia essas duas formas de consciência. Nesse ponto, teremos o auxílio da leitura que Sheets-Johnstone, defensora de uma versão peculiar da cognição corporificada, faz da concepção de corporeidade em Husserl. Num segundo momento, a partir dos resultados colhidos, será enfrentado o problema do papel educativo da ficção, tendo como principais interrogações: que tipo de construção ou transformação de significado pode se dar a partir da dimensão kinestética de experiências com ficções? teria esse tipo de construção ou transformação de significado um caráter exclusivo determinado pela ficcionalidade ou um caráter apenas derivativo de sua referência a experiência não ficcionais?
Palavras-chave: ficção; percepção; kinestesia; fenomenologia; cognição corporificada.
Nota Biográfica: Professor e pesquisador de Filosofia da Educação; Programa de Pós-graduação em Educação - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.